
R.Raven
GATA DE RUA
- Afinal o que sou?
Se não sei o que sinto.
Quantas vezes já amei?
Ou então fantasiei
Amores são infinitos.
Sou GATA DE RUA...
Sem amo sem dono
Sem gato e sem cama.
Sem laço de fita
Que faça sentir
Aflição no pescoço.
Sou GATA DE RUA...
Só sei amar a Lua.
Sei enlear-me no macho,
Ser apertada no abraço
Comer, beber e sumir.
Sou GATA DE RUA...
Sem dono e sem laço.
Yedda Gaspar Borges
Nos olhos
Nos olhos de meu gato
Há imagens que esperam...
Há sonhos que não desvendo,
Amores que não entendo,
Encantos tantos,
Quantos!
Nos olhos de meu gato
Tem mistério que não tem fim,
Tem solidão,
Agonia, poesia,
Tristeza enfim...
Nos olhos de meu gato
O sonho se separa,
A fantasia grita,
A vida se agita,
O mundo pára...
Nos olhos de meu gato
Eu vi...
Só eu vi...
Nos olhos de meu gato...
Cida Sousa
Ode ao gato
Os animais foram
imperfeitos,
compridos de rabo, tristes
de cabeça.
Pouco a pouco se foram
compondo,
fazendo-se paisagem,
adquirindo pintas, graça, vôo.
O gato,
só o gato
apareceu completo
e orgulhoso:
nasceu completamente terminado,
anda sozinho e sabe o que quer.
O homem quer ser peixe e pássaro
a serpente quisera ter asas,
o cachorro é um leão desorientado,
o engenheiro quer ser poeta,
a mosca estuda para andorinha,
o poeta trata de imitar a mosca,
mas o gato
quer ser só gato
e todo gato é gato
do bigode ao rabo,
do pressentimento à ratazana viva,
da noite até os seus olhos de ouro.
Não há unidade
como ele,
não tem
a lua nem a flor
tal contextura:
é uma coisa só
como o sol ou o topázio,
e a elástica linha em seu contorno
firme e sutil é como
a linha da proa
de uma nave.
Os seus olhos amarelos
deixaram uma só
ranhura
para jogara as moedas da noite
Oh pequeno
imperador sem orbe,
conquistador sem pátria
mínimo tigre de salão, nupcial
sultão do céu
das telhas eróticas,
o vento do amor
na imterpérie
reclamas
quando passas
e pousas
quatro pés delicados
no solo,
cheirando,
desconfiando
de todo o terrestre,
porque tudo
é imundo
para o imaculado pé do gato.
Oh fera independente
da casa, arrogante
vestígio da noite,
preguiçoso, ginástico
e alheio,
profundissimo gato,
polícia secreta
dos quartos,
insignia
de um
desaparecido veludo,
certamente não há
enigma
na tua maneira,
talvez não sejas mistério,
todo o mundo sabe de ti e pertence
ao habitante menos misterioso,
talvez todos acreditem,
todos se acreditem donos,
proprietários, tios
de gatos, companheiros,
colegas,
díscipulos ou amigos
do seu gato.
Eu não.
Eu não subscrevo.
Eu não conheço o gato.
Tudo sei, a vida e seu arquipélago,
o mar e a cidade incalcullável,
a botânica,
o gineceu com os seus extrávios,
o pôr e o mesnos da matemática,
os funis vulcânicos do mundo,
a casaca irreal do crocodilo,
a bondade ignorada do bombeiro,
o atavismo azul do sacerdote,
mas não posso decifrar um gato.
Minha razão resvalou na sua indiferença,
os seus olhos tem números de ouro.
(Navegaciones y Regresos, 1959)
Pablo Neruda
O gato
O Gato, em si, o gato é
no espaço em que se vê
o gato que habita o gato
emoldurado pelos olhos
que decifram a forma gato
no gato objeto do poema;
o gato humano no beiral
da cama onde o gato é.
Ser gato é forma definida
ao gato, então perplexo, que, reflexos
de outros gatos, demonstra gatos
ao entendimento curioso
do gato ser.
Somos gatos ao gato é
assim como o gato não sabe
que é gato e por não ser gato
ao espaço dos meus olhos
que os vê no gato do poema
é concepção de forma
sem estrutura humana
ao beiral da cama
onde o gato é.
Flávio Rubens
Felinos na noite
(felinos na noite)
pelos móveis pelo chão
ronronando
felina satisfação
contaminando
o ambiente com carinho
pêlos e sofisticação
de raça ou de rua
seres da madrugada
sinistros ou fofinhos
longilíneos ou pequeninos
gatos
passeando
pela casa
madrugando
em meu colo.
Li Christiane
O gato e o pássaro
Uma cidade escuta desolada
O canto de um pássaro ferido
É o único pássaro da cidade
E foi o único gato da cidade
Que o devorou pela metade
E o pássaro pára de cantar
O gato pára de ronronar
E de lamber o focinho
E a cidade prepara para o pássaro
Maravilhosos funerais
E o gato que foi convidado
Segue o caixãozinho de palha
Em que deitado está o pássaro morto
Levado por uma menina
Que não pára de chorar
Se soubesse que você ia sofrer tanto
Lhe diz o gato
Teria comido ele todinho
E depois teria te dito
Que tinha visto ele voar
Voar até o fim do mundo
Lá onde o longe é tão longe
Que de lá não se volta mais
Que você teria sofrido menos
Sentiria apenas tristeza e saudades
Não se deve deixar as coisas pela metade.
Jacques Prévert
O gato e o verso
Eu escrevo
ele descreve
piruetas,
carvão e neve
E quando encontro a rima
Lá vem o danado
em cima do meu teclado
Insistiu tanto o bichano
que conseguiu o que queria:
ser minha própria poesia!
Luiza Aparecida Mendo
Divino esse seu blog, Raven! Parabéns pelo lindo trabalho!
ResponderExcluirBjinhosssssss ^.^